sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Em doces guerras frias...




Por Juliana Ramiro


“O nosso amor sumindo
Entre partir, ficar
Entre o norte, o sul
Cruzando sobre os raios
Antenas de TV
Porque você me olha
Se você não me vê
Sobre os oceanos
Em doces guerras frias
Não deixa anoitecer
Não deixa escurecer
O Nosso dia”



Cruzando raios. Estou há dias com essa música na cabeça. Ninguém me agüenta mais. A canção é velha, de um cantor que poucos gostam e foi tema de novela das 20h. Assim, todo mundo conhece, pouca gente curte. A letra, num primeiro momento, não me disse nada, só hoje descobri por que ficou tão impregnada nos meus pensamentos. Ela serviria para inspirar algo que preciso por pra fora, cuspir mesmo.

Pior do que o amor que se vai é o gosto amargo e o cheiro azedo que fica. E esse cheiro fica impregnado na casa, na roupa, na pele, por tudo. E a gente tenta um cheiro melhor, um cheiro puro, mas o passado é tão forte, que nos bloqueia as vias, talvez as veias.

E mesmo um beijo doce, talvez o beijo mais doce que possa existir não é capaz de tirar por completo o amargo da boca. Eiii, não estou falando de amor. O amor é bom e já foi embora, o que sobrou foi o gosto ruim, que não vai, mas já vai tarde.

O cheiro azedo se mistura com o cheiro de cola. A gente cola os cacos, mas o cheiro fica. E a nossa própria cola se mistura com o cheiro de tinta, da tinta que a gente rabisca o novo futuro. E risca e rabisca.

Quem dissolve tudo isso? O tempo. Ele alivia o cheiro, amacia o gosto, torna a tinta fresca seca. Acalma o pensamento. Fixa os rabiscos na história, estabelece cada lugar. Dá vida. Traz vida. Devolve vida. V-I-D-A-!



Música inspirada na música Cruzando Raios, na versão dos músicos Matheus Possebon e Jonathan Corrêa.