sexta-feira, 31 de outubro de 2014

De volta...



Olá, imagino que meus leitores devem ter me abandonado, devido ao tempo que estive afastada do blog. A verdade é que a vida vai passando, as rotinas vão se desfazendo e novos horizontes nos tomam cada vez mais tempo. Pra mim, isso não é ruim, como costumo dizer o que incomoda é um barco parado.

Estou numa nova fase da vida, lendo coisas que escrevi no passado vejo o quanto mudei, mudei de opinião, de gosto e inclusive de rosto. Cogitei começar um blog do zero, mas me parece muito mais interessante ter tudo aqui, todo o meu crescimento e amadurecimento exposto. Imagino que possa ser interessante para quem me lê como é pra mim. Afinal, todos devem ter mudado.

Neste momento da vida, já me formei em jornalismo, estou concluindo um MBA em Marketing Digital e Mídia Sociais e cursando uma cadeira como aluna especial no Mestrado em Design e me preparando para a seleção, que será no final deste ano. Minha proposta pra o blog nesta nova fase é intercalar crônicas sobre o cotidiano, meu desabafos e devaneios com algumas coisas que escrevo profissionalmente e como acadêmica. Só um mix de tudo isso expressaria, de fato, quem sou e como estou.

Espero que gostem! E, já neste novo processo, compartilho uma "conversa minha" com a leitura de um texto de Oscar Wilde - "Las artes y el artesano". Está inacabado, mas gostei do exercício. Aguardo opiniões.


JULIANA RAMIRO - NARRATIVA E BREVE CONEXÃO COM ÁREA DE INTERESSE

O texto de Oscar Wilde, Las artes y el artesano, embora seja de 1892, se faz atual, pois defende ideias que ainda hoje pautam discussões profissionais e acadêmicas que envolvem o design, a propaganda, o cinema, a fotografia, o jornalismo e outras áreas onde a técnica e a criação caminham lado a lado. Wilde defende a junção do artesão e do artista, alegando que quando separados os dois são arruinados – um perde seu motivo espiritual e seu poder imaginativo, o outro sua perfeição técnica. Com base nesta afirmação, alguns temas podem ser pautados, aqui serão destacados três: os limites entre a técnica e a arte (se é que eles existem), a coexistência entre a arte, o artesanato e tantas outras manifestações culturais e o preconceito cultural.

Considerando dois conceitos básicos de que o artesão é o profissional que fabrica produtos através de um processo manual ou com auxílio de ferramentas e o artista é o sujeito envolvido na produção de arte, no fazer artístico criativo, quando um designer usa suas habilidades técnicas e criativas para desenvolver uma poltrona, ele está sendo artesão ou artista? Wilde defende a união entre a técnica e a criação, o profissional do design é a materialização deste conceito. Para validar esta definição cabe o exercício de pensar na subtração das habilidades. Será que sem a técnica ou sem a criatividade o resultado final seria a mesma poltrona? O mesmo exercício vale para outros profissionais, como o fotógrafo, que usa técnicas jornalísticas e de fotografia para cobrir acontecimentos cotidianos porém assina suas fotos com a própria criatividade e forma de ver o mundo.

Além disso, neste mesmo trecho do livro, ampliado em outras passagens, Wilde defende o conceito da coexistência. O belo está ao lado da utilidade das coisas e da sua expressão e atitude artística. Isso quer dizer que as coisas belas são belas porque têm uma utilidade, porque expressam a verdadeira cultura de um povo, porque são autênticas e representam a atitude de seus criados. Assim, existe o belo produzido na Itália, que não será e nem deverá ser o mesmo belo produzido no Brasil. Uma beleza não invalida a outra.

A partir do conceito de coexistência, ainda se pode discutir o preconceito cultural. Com a passagem dos anos novas expressões culturais vão surgindo e com elas novos conceitos e visões do que é belo. Essas manifestações são vistas pelas anteriores, e isso ficou claro em muitos momentos da história, como menos legítimas. O contrário também se faz verdadeiro, quem chega tende a invalidar o que já existia. Oscar Wilde, de certa forma, defende a coexistência e até mesmo a mistura entre todas essas manifestações.

O preconceito cultural, muitas vezes, está enraizado na dificuldade de entender o conceito existente. Quando um designer cria a identidade de uma empresa, por exemplo, esta marca, fruto da sua concepção técnica e criativa, estará inserida num contexto histórico, político, social, econômico e cultural e deverá conversar com seu público, sem ruídos. Este contexto sofrerá constantes alterações e esta marca precisa manter-se inteligível, adaptando-se a essas mudanças, sem perder a sua base conceitual, aquilo que justificou a sua criação e existência.