terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A gente só sabe a importância de um mecânico quando perde um amigo




Por Juliana Ramiro


A Max Motos, sem o Max, fica literalmente só motos. Essa foi a sensação que tive ao entrar na oficina onde levei minha primeira moto, há anos e, mesmo me mudando três vezes de endereço, e trocando algumas vezes de moto, lá sempre foi a minha oficina. Não sou uma consumidora fiel, seguidora de marcas, sou uma apaixonada por pessoas.

O Max me ganhou logo na primeira visita. Meu mecânico era prepotente, mas aquele tipo de pessoa que pode ser, por simplesmente ser. Nunca saí de lá sem respostas, sem broncas e sem rir muito do jeito dele, do meu e das soluções imediatas para tudo. Eu era uma curiosa com o cara mais disposto a ensinar que já conheci. Colocava minha moto no “elevador” e me apontava tudo, cada coisinha. Na cabeça dele, eu precisava entender tudo, para saber como me comportar em caso de alguma emergência.

Ele era como eu, adorava problemas pela oportunidade de encontrar a solução e ganhar uma salva de palmas. E quanto isso custava? O justo. O resto, o show todo, ele fazia com gosto. Dava pra ver nos seus olhos o amor que tinha pelas motos, pelo trabalho. Vivia ali e, mesmo sendo o chefe, estava sempre sujo de graxa e fazia questão de mexer na minha moto. Eu o via como o oráculo da oficina. Não sabe? Pergunta para o Max. E trate de manter as ferramentas no lugar, ele odeia bagunça.

Como um pai, ficou “p” da vida quando teve que me buscar em Canoas, com a correia da moto trancada na roda no meio da BR. Não me cobrou nada, mas veio o caminho inteiro e o tempo que colocava a correia no lugar me dando bronca porque eu não tinha lubrificado a correia, porque não estava fazendo a manutenção direito, por tudo que podia ter acontecido. Quase uma hora de bronca, moto pronta, em posição de partida, Max me entrega o capacete, a chave e, como de costume, diz: dá-lhe pau!

Quando finalmente decidi trocar minha primeira moto, comprada sem a supervisão do Max, ele foi o primeiro a querer ajudar, fez uns três telefonemas, ajudou a escolher, trouxe a moto nova, o financiamento, vendeu a minha lata, como dizia, e cuidou de todas as revisões.

Quando vendi fiquei um ano sem moto, sem aparecer na oficina, sem o Max. Comprei meu brinquedo mais recente e a primeira revisão fiz questão que fosse com ele. E ele estava lá, no mesmo lugar, lembrava meu nome e me entregou a moto impecável, como sempre. Lembro que quando deixei lá ele tinha dado uma saída, porém, quando voltei para buscar ele que me entregou e fez questão de me dar mais uma bronca. A pastilha do freio estava quase no ferro. Max me disse: “Mandei trocar, vai dar uns 60 reais a mais. Paga que é para tua segurança, não ia te deixar sair daqui com o freio naquele estado”. Paguei, levei a moto, e saí de lá com o coração apertado.

Max não tinha mais a mesma vitalidade, estava magro, caminhando com dificuldade. O brilho no olho era o mesmo, mas o brilho da vida não mais. Hoje, fui trocar o óleo e tive a resposta que não queria, a uma pergunta que demorei quase todo o tempo que tive por lá para fazer.

Busquei o óleo e não tinha ninguém para me indicar qual era o melhor e mais em conta. Quis trocar a viseira do meu capacete e não tive ninguém para dar um pitaco no modelo, cor, investimento. Onde estava o Max? O Max não está mais aqui, faz dois meses. O tempo quase que exato da última vez que apareci por lá. Nosso último encontro foi uma despedida. E vendo a Max Motos, sem seu personagem mais ilustre, o Max, pude entender a importância de um mecânico, do meu mecânico. Perdi um amigo.