sábado, 27 de outubro de 2012

De Pai para Filho



Por Juliana Ramiro


Dos mais insensíveis aos mais sentimentais, todos, de alguma forma, emocionam-se assistindo “Gonzaga, de Pai para Filho”. O filme não tem grandes sacadas de roteiro, fotografia, figurino, efeitos especiais, nem todos os palavrões comuns nas obras do cinema nacional. O roteiro nos prende pela própria história, por algo que temos ou já tivemos um dia: um pai.

Não sei bem o porquê, mas as relações de pai e filho são sempre as mais conturbadas. A mãe parece que aprende a nos conhecer e a lidar com a gente enquanto ainda nos alimenta dentro da sua barriga. Enquanto isso, os pais penam para construir um laço afetivo, correr atrás do tempo perdido, do tempo que fomos somente de nossas mães e não deles.

Existem pais que são praticamente mães. Contudo, eles são exceção, não a regra. Desconfio que por não conviver conosco desde a barriga, por não ser o grande responsável pela nossa vida, por não ter sofrido para que nascêssemos, o pai se sente tão perdido quanto nós, que temos que conviver com aquele cara que nos é estranho e amá-lo, de um jeito ou de outro.

O pai, historicamente, dentro de uma família, é o responsável por administrar os bens, nos manter financeiramente e pensar no nosso futuro. E os pais de outrora certamente eram mais distantes de suas crias do que hoje.

Posso dizer que tive, e tenho, um pai e uma mãe presentes. Com a mãe aquela relação umbilical. Ela me conhece e, mesmo nos momentos mais difíceis, sabe entender e dar uma palavra de apoio. Com o pai uma relação um pouco mais dura, marcada por cobranças de um e de outro.

A grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa, principalmente quando se é adolescente e o excesso de limites vai alimentando a nossa rebeldia. Sou muito parecida com meu pai em algumas coisas e, muito do que me tornei, foi por que estive focada em mostrar para ele que, mesmo não seguindo o caminho que sonhou para mim, seria feliz e capaz de ser alguém que merecesse seu orgulho.

Meu pai, como o pai de Gonzaguinha, e tantos outros por aí, sonhou outras coisas para mim e, ao mesmo tempo em que cobra atitudes adultas, tem dificuldade de ver que cresci. Ele sempre foi duro, correto e me fez dar muito valor a coisas que hoje agradeço. Tive uma boa educação, sei dar valor ao dinheiro, a família e tenho uma lista de outras coisas que não quero repetir com meus filhos.

No fundo, acho que pela falta de algo que realmente tenha ligado nossos corpos, nunca vou entender plenamente meu pai, nem ele a mim. E o mais engraçado de tudo isso, é que embora sejamos sempre um pouco estranhos um ao outro, somos parecidos, principalmente na dureza e na falta de jeito de admitir nosso amor.


“Pai
Me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos seus braços você fez segredo
Nos seus passos você foi mais

Você foi meu herói, meu bandido
Hoje é mais muito mais que um amigo
Nem você, nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz"


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A tranquilidade sentimental gera agitação profissional



Por Juliana Ramiro

Antes de mais nada digo: ISSO É BOM. Não quero que pensem que meu texto é um desabafo de infelicidade, de nostalgia dos meus tempos sentimentalmente perturbadores e perturbados. Estou feliz. Estou leve. Estou em paz. Vivo a maturidade no amor e a adolescência profissional.

Não é que tenha deixado o amor de lado, nem que tenha regredido no trabalho. O amor tem um ar de naturalidade, os acontecimentos e a leveza dos gestos não me dão preocupação; e no trabalho estou arriscando, criando, sonhando como nunca. No amor estou no ninho, em pleno pouso, deixando as asas disponíveis para conhecer novos campos, experimentar novos tempos, cursar por caminhos sem tempo, ser um pouco mais jornalista, um pouco mais web, um pouco mais áudio, um pouco mais gráfica, um pouco mais foto, um pouco mais empreendedora, um pouco mais profissional, um todo mais eu.

Na vida sem tempo sobram sonhos e passos. No amor sobra certeza. E eu, que sempre fui avessa ao ninho, à tranquilidade, aprendi que na vida, estar em movimento é importante, contudo, num dia de chuva, como hoje, o que conta mesmo é ter um apaixonante abrigo para estar.