sexta-feira, 11 de maio de 2012

Cada vez mais poeta



Por Juliana Ramiro

Alguns banhos de chuva e se torna inevitável. Até a casca mais dura fica um pouco mole. Andei levando uns banhos, não só de chuva, mais de arte, de sentimentos, das relações humanas, enfim, banhos da própria vida. Guardei até agora. Os extrapolo aqui.

Idéias novas pedindo passagem, mágoas que pareciam estar vencidas, mas que chegam e vão entrando sem bater na porta. Dia após dia vou lambendo cada ferida e, mesmo sem a ajuda de algum remédio, vou tentando costurar o saco de retalhos que me tornei, frente a cada lembrança, cada verdade, cada realidade que topei.

Não me considero a pessoa mais limpa, mas tenho certeza que a mais suja não sou. Inocente, creio na cura e na mudança do outro, além de na minha própria mudança. Sou incapaz de acreditar nos meus erros. Penso que vou morrer sem considerar que meu coração por vezes, muitas vezes, tantas vezes se enganou, deixando fazer morada amigos e amantes que não deveriam nem ter passado pela minha estrada.

Ou talvez devessem. E tudo que hoje parece um erro foi acerto. E tantos acertos me fizeram o que sou, deram vazão a minha força, aos meus devaneios, aos meus anseios, sentidos e a minha arte. Pena não poder dividir e destrinchar tantas coisas com as pessoas que amo. Uns não dão assunto, ou não entendem, outros preferem não participar de certas coisas.

A verdade é que me sinto cada vez mais poeta. Um poeta louco, extrapolado, que escreve, escreve, escreve... e termina mais um dia incompreendido, sozinho e calado.


"É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"