quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Com a mala pronta.





Por Juliana Ramiro

Calma. Não estou indo embora, ainda.

É bom finalmente ter um tempinho de passar por aqui e colocar umas idéias na rede. Agradeço pelas cobranças de novo post que recebi, tais gestos mostram que tenho quem me leia. Agradeço mesmo, de coração.


Mas vem cá, o que significa para você estar com a mala pronta? Quando era criança, uma mala pronta me deixava imensamente feliz. Minha família nunca fez grandes viagens, mas o pouco dinheiro que economizávamos o ano inteiro, passado o natal, garantia nossas malas prontas na frente da porta da sala: íamos veranear em Presidente, Mariluz, Imbé, Tramandaí. Certa vez fizemos as malas no inverno, naquele ano conheci a Serra Gaúcha e o Natal Luz. Meus olhos infantis nunca tinham presenciado tamanha iluminação e magia. Refizemos mais duas vezes o passeio, até o tempo regular minha retina e dar um banho de realidade na luz de Gramado e a deixar quase sem brilho.


Com uns seis anos, além das malas na porta, encontrei toda nossa mudança. Estávamos, eu, o Rafa e meus pais, indo para a casa da frente. Mais uma mudança feliz. Era uma casa maior, “de material” e eu teria um quarto só meu. Era o começo do meu mundo, do meu desejo de ter um pedaço de terra em que o que fosse dito por mim era lei. Nessa época comecei a aprontar malas menores para passar finais de semana na casa das tias, dos amigos, da vó. Lembro que a função de pensar em tudo que iria precisar e ter o cuidado de não deixar nada para trás, além de fazer caber o máximo no mínimo espaço me davam uma sensação muito especial.


Com 18 anos, outra vez vi as malas prontas na porta da frente. Dessa vez, não eram nossas, minhas, eram somente do pai. Meus pais estavam se separando e lembro que essa foi a primeira vez que malas prontas não me pareceram algo bom, não estava feliz, tive medo. Com o passo do tempo pude perceber que aquelas malas, na época, podiam ter sido arrumadas com certa tristeza de todos, mas que, sem dúvida, passado o susto, todos estávamos felizes e prontos para as próximas malas que vinham chegando.


No mesmo ano, aprontei minhas malas e dei início a realização do meu primeiro grande sonho, aquele que nasceu com o quarto só meu na casa nova. Estava indo morar em Porto Alegre. Num primeiro momento, a mãe veio comigo, para se certificar que ficaria tudo bem, que eu estava pronta para dominar meu território, administrar o tão sonhado espaço onde faria minhas leis. E por quase cinco anos, com altos e baixos e muito aprendizado, mantive o trono e o reinado. Nesses anos fiz as malas algumas vezes para conhecer outros lugares, países, pessoas.


E nesse tempo todo, a sensação de grande felicidade ao ver uma mala pronta fez parte de mim, dos meus sonhos de criança às minhas realizações de recém adulta. Hoje, finalmente consigo entender o que de fato significam malas prontas para mim. Elas são o sinal de uma mudança. Mudança de casa, de estado civil, de ares, de emprego, de vida.


Sou aquele tipo de pessoa que onde pára cria raízes. Não sei ser meio amiga, meio profissional, meio proprietária, meio amante. Sou aquele tipo de amiga que abre a casa, que considera irmão, defende, faz planos, sonha junto. Sou aquele tipo de profissional que tem a mesa repleta de badulaques, que faz da empresa uma espécie de lar, que constrói laços e se esforça sempre para realizar o trabalho cada dia diferente, diferentemente melhor. Sou aquele tipo de proprietária que mexe no bem, deixa-o com um jeito próprio, propriamente meu. Sou aquele tipo de amante que participa, ajuda, quer conhecer cada pedaço, surpreender, entender coisas que até mesmo o ser amado não compreendeu sobre si mesmo.


Enfim, sou do tipo que entra no jogo para jogar, que sugere fazer o pão e coloca a mão na massa. E as malas prontas? Para gente intensa feito eu, as malas prontas significam uma rápida e indolor retirada. O mundo gira e minhas malas estão sempre prontas para girar com ele, comigo. Posso me dizer fácil de criar raiz. E posso dizer que minhas malas prontas sempre me levaram para uma realidade mais feliz.

E dessa vez e da próxima, e da próxima, e da próxima... NUNCA SERÁ DIFERENTE.





“Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz”



Um comentário:

Maria Fernanda Candido Paetzel disse...

Bhá! Adorei muito este post! Tão perfeito, tão verdadeiro! (Mudança de estado civil me fez rir ... minha maior realidade nos últimos tempos).

Fazer as malas sempre me assustou, mas jamais deixei de fazê-las por isso. Algumas vezes não havia outra saída, em outras a única saída que encontrei foi aprontar a mudança de armário, de andar, de quarto.

Fiz minhas malas pela última vez há 3 meses ... foram malas doloridas, mas necessárias! Trouxe dentro delas não somente minhas roupas, livros escova de dentes ... mas muito além disso, trouxe dentro delas a pessoa que eu havia deixado de ser!

Amei os escritos, Juzita!

Beijão!