Por Juliana Ramiro
Dos mais insensíveis aos
mais sentimentais, todos, de alguma forma, emocionam-se assistindo “Gonzaga, de
Pai para Filho”. O filme não tem grandes sacadas de roteiro, fotografia,
figurino, efeitos especiais, nem todos os palavrões comuns nas obras do cinema
nacional. O roteiro nos prende pela própria história, por algo que temos ou já
tivemos um dia: um pai.
Não sei bem o porquê, mas as
relações de pai e filho são sempre as mais conturbadas. A mãe parece que
aprende a nos conhecer e a lidar com a gente enquanto ainda nos alimenta dentro
da sua barriga. Enquanto isso, os pais penam para construir um laço afetivo,
correr atrás do tempo perdido, do tempo que fomos somente de nossas mães e não
deles.
Existem pais que são
praticamente mães. Contudo, eles são exceção, não a regra. Desconfio que por não
conviver conosco desde a barriga, por não ser o grande responsável pela nossa
vida, por não ter sofrido para que nascêssemos, o pai se sente tão perdido quanto
nós, que temos que conviver com aquele cara que nos é estranho e amá-lo, de um
jeito ou de outro.
O pai, historicamente,
dentro de uma família, é o responsável por administrar os bens, nos manter financeiramente
e pensar no nosso futuro. E os pais de outrora certamente eram mais distantes
de suas crias do que hoje.
Posso dizer que tive, e
tenho, um pai e uma mãe presentes. Com a mãe aquela relação umbilical. Ela me
conhece e, mesmo nos momentos mais difíceis, sabe entender e dar uma palavra de
apoio. Com o pai uma relação um pouco mais dura, marcada por cobranças de um e
de outro.
A grama do vizinho é sempre
mais verde do que a nossa, principalmente quando se é adolescente e o excesso
de limites vai alimentando a nossa rebeldia. Sou muito parecida com meu pai em algumas
coisas e, muito do que me tornei, foi por que estive focada em mostrar para ele
que, mesmo não seguindo o caminho que sonhou para mim, seria feliz e capaz de
ser alguém que merecesse seu orgulho.
Meu pai, como o pai de
Gonzaguinha, e tantos outros por aí, sonhou outras coisas para mim e, ao mesmo
tempo em que cobra atitudes adultas, tem dificuldade de ver que cresci. Ele
sempre foi duro, correto e me fez dar muito valor a coisas que hoje agradeço. Tive
uma boa educação, sei dar valor ao dinheiro, a família e tenho uma lista de
outras coisas que não quero repetir com meus filhos.
No fundo, acho que pela
falta de algo que realmente tenha ligado nossos corpos, nunca vou entender plenamente
meu pai, nem ele a mim. E o mais engraçado de tudo isso, é que embora sejamos
sempre um pouco estranhos um ao outro, somos parecidos, principalmente na
dureza e na falta de jeito de admitir nosso amor.
“Pai
Me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais aquela
criança
Que um dia morrendo de medo
Nos seus braços você fez
segredo
Nos seus passos você foi
mais
Você foi meu herói, meu
bandido
Hoje é mais muito mais que
um amigo
Nem você, nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em
paz"
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