quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O desafio maior é admitir-se falho e manter o brilho no olho



Por Juliana Ramiro


Para mim, empresas nascem de sonhos. E nossos sonhos se tornam reais quando realmente conseguimos amá-los. A Rádio Falando de Amor nasceu assim. Sou jornalista por profissão e sonhadora por escolha de vida. E que me perdoem os mais técnicos, mas tem um momento decisivo que toda empresa passa, quando está no meio da estrada, e a nossa decisão a conduzirá para o sucesso ou fracasso. Essa escolha tem a ver com o amor. Realmente estamos dispostos a nos dedicar a esse sonho? Somos capazes de superar os dias mais críticos e seguir plantando para colher adiante? Óbvio que não devemos abdicar da racionalidade, mas, o determinante na minha decisão foi o quão apaixonada estava pelo meu projeto.

Fiz essa escolha logo nos primeiros meses do projeto - e acredito que, vez que outra, terei que repetir a dose. O volume de trabalho é grande, o retorno é pequeno e temos que lidar com a sensação de que quanto mais a gente faz, mais terá a ser feito. Um ciclo interminável e vicioso de trabalho, exaustivo e apaixonante. Se meu sentimental não tivesse mergulhado comigo nessa, não teria as próximas linhas deste texto.

O primeiro passo para tirar um empresa do campo das ideias e fazer dela um negócio é admitir que não sabemos tudo, que não vamos dar conta e que, sim, precisamos de ajuda. Para mim esse foi o passo mais difícil. Olhar para dentro e admitir meus pontos fracos e captar pessoas para suprir tais necessidades. É melhor dividir e ganhar do que perder sozinho.

O segundo passo é saber a hora certa de entrar no jogo. Planejamento é fundamental. Isso aprendi “tomando na cabeça”, como dizem os surfistas. Montei a rádio, vi fornecedores, estruturei o site e fiz a primeira transmissão em uma semana. Os dois meses seguintes foram de pura loucura, planejar algo depois de lançado é muito mais penoso. E, se tratando de uma rádio, os erros ficam escancarados para quem estiver ouvindo. São problemas técnicos, de software, hardware e de pura falta de planejamento. Deixei escapar clientes por, simplesmente, não ter pensado em valores, estratégias e definições técnicas. Gastei mais do que precisava, por mudar três vezes de fornecedor, até chegar à transmissão que estivesse de acordo com as necessidades do meu negócio. Precisei organizar processos, recebimento de materiais, criar parcerias, montar redes para o negócio, movimentar os canais de comunicação com os ouvintes, tornar o produto atraente e, tudo isso, com a rádio funcionando, 24h no ar. Nem cartões de visita eu tinha e a Rádio já estava com 100 acessos diários. Noites sem dormir, surtando sozinha, até que sentei com minha sócia (aqui já tinha admitido que precisava de uma) e coloquei tudo no papel. Uma sócia com perfil diferente do nosso ajuda mais do que alguém que seja nossa cópia, acreditem.

E aqui identifiquei o terceiro passo. O papel. Eu não tinha registro de nada. Até hoje não entendo como as pessoas abraçaram a rádio comigo e como os primeiros locutores não perceberam a furada que estavam se metendo. Era tudo de boca. Enquanto éramos três bocas, eu conseguia organizar, quando chegamos a cinco, senti-me obrigada a ouvir minha sócia e fazer apresentações formais da rádio, contratos de anunciantes, guia de processos para os locutores, manuais dos programas de edição. Isso facilitou o trabalho e hoje, com mais de 15 locutores e o time crescendo a cada dia, tenho certeza de que o papel salvou a minha vida e do projeto.

O quarto passo é não prostituir o trabalho – ou prostituí-lo para as pessoas certas. Parceiros são ótimos, mas é decisivo que a parceria seja fundamentada na troca. Se você ganha com um parceiro, ele tem que ganhar com você – e a recíproca deve ser verdadeira. Essas são as parcerias mais saudáveis e que rendem os melhores frutos. Entenda o que seu parceiro precisa e não tenha medo de pedir o que realmente é importante. As parcerias de que falo devem ser feitas, também, com seus clientes, aquelas pessoas que você conversa, que dão dicas, que trocam ideias, os grupos de “estudo e apoio” – e aqui entra, de forma muito especial, o Jogo de Damas. Todos são parceiros fundamentais.

O último passo é não perder a paixão que fez você apertar o “play” de tudo isso. Sem ela o caminho fica mais cinza, mais difícil e menos prazeroso. Aceite sua empresa como um filho, mas não seja uma mãe coruja, incapaz de ver os pontos fracos deste filho. Uma mãe realista, que não deixa faltar amor, colabora muito mais no crescimento do piá. Ah, e tenha certeza de que seu brilho no olho convence as pessoas de que estão diante de algo verdadeiramente interessante. Não esqueça disso no caminho!

Hoje, a Rádio Falando de Amor, está com cinco meses de vida, mais de 300 acessos por dia, 15 programas selecionados “a dedo”, locutores-parceiros, ouvintes-parceiros, anunciantes-parceiros e parceiros-parceiros, que fazem todo esforço valer a pena.

PS. Espero que meus erros e acertos possam ajudam empreendedoras que estejam começando, possam provocar saudade naquelas que hoje já consolidaram seus negócios e trazer esperança àquelas que abandonaram seus sonhos.


“Amar não é brega, não é ‘mimimi’, amar é vital” (trecho da apresentação da RFA)



* Texto escrito para o blog do Jogo de Damas - comunidade crescente de mulheres empreendedoras que amam os desafios do dia a dia e que querem fazer a diferença.




sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Eu quisera (uma adaptação)



Por Juliana Ramiro



Eu quisera entender teus códigos
E reconhecer teus limites

Eu quisera não precisar das tuas palavras
E, por vezes, saber não ouvi-las

Quisera receber-te de forma incondicional
E saber me respeitar um pouco menos

Eu quisera trair a mim
E proteger o que é nosso

Eu quisera que tivéssemos nascido um
Ou que não morrêssemos por ser dois

Eu quisera pensar no teu melhor
E que conhecesses o meu

Eu quisera padronizar minhas emoções
E me entregar de jeito óbvio

Eu quisera peneirar meus sentimentos
E transbordar só o que te agrada

Eu quisera não ser eu
E quisera não te ver partir



“O inverno vai passar, e apaga a cicatriz”




quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Marque um “x” e garanta já o seu diploma


Por Juliana Ramiro

Aula de teorias da comunicação. Professor chega, faz cara de sacana, a chamada, põe o saco de provas junto ao peito, vai para frente do antigo quadro negro, hoje atualizado para branco, e espera o fim do alvoroço para passar as últimas informações antes de eu sentir minha formação entrando pelo cano.

Palavras dele: prova objetiva, são cinco questões, cuidem os “pega ratões”, não olhem para os lados, não colem, a prova é rápida, porém vocês não podem terminar e sair, esperem meu sinal. Só não levantei e fui embora porque olhei para os lados e vi que meus colegas jornalistas pareciam conformados com aquilo que, para mim, era mais que um absurdo. Fiquem com a maioria, fazendo meu próprio advogado do diabo.

Para que serve uma teoria? Para que serve uma prova objetiva com “pega ratões”? Afinal, para a avaliação de um professor universitário o que interessa mais é o quanto eu não sei de um conteúdo? Ou, ainda, o quanto consigo decorar e estar tranquila no momento da prova para não cair num obstáculo pouco teórico?

O conteúdo da prova, em folhas de xerox, chegou a mais de 200 página. Tratando-se de teorias, umas cinco. Considerando-se a aplicação desse conteúdo, igual a zero. Do que me adianta decorar uma teoria sem ter um acompanhamento na sua aplicação? Esse é o tipo de coisa que a gente não aprende lá fora, no mercado. Jornalista que não se tornar pesquisador vai morrer sem fazer a aplicação de uma teoria, ou, no mínimo, aprender no período da monografia o que não viu na formação inteira. Para mim, está tudo errado.

O valor de aprender uma teoria está no quanto a gente consegue aplica-la, não?! Simplesmente falar sobre teorias tem algum valor curricular? Teoria boa é teoria citada. E aqui uso aspas de mim mesma, pois acredito que minha forma de ver o ensino é, no mínimo, mais adequada que a utilizada nesta disciplina. “Professor preguiçoso, profissional pobre” (isso daria um título de livro), lamenta Ramiro (2012), que está no último ano da faculdade de jornalismo e não esperava ter esta última decepção pré-formatura.

Ei, Famecos, avancemos no processo de educação como na evolução do quadro negro. Superemos o negro, avancemos o verde, cheguemos ao branco, ensinemos a pensar.