terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma Ana Carolina acima do feminino e do masculino


(Texto meu publicado no site e na versão impressa do Jornal Oi)

Sete de março, nove horas e quinze minutos de uma noite de sexta-feira. Ana Carolina sobe no palco do Teatro do Bourbon para o que seria um espetáculo diferente dos shows anteriores da artista para os gaúchos. A Ana da apresentação do ano anterior, 19 de outubro, no teatro do Sesi, foi uma cantora séria, de poucas palavras, tratando o público apenas como espectador.

No Bourbon, porém, ela interagiu e arrancou mais suspiros, mais risos e mais lágrimas, principalmente das mulheres, como aquela que estava sentada ao meu lado, na segunda fila da platéia baixa. Ela representa apenas mais uma das inúmeras mulheres que choravam, riam, amavam Ana Carolina, bem como sua voz, violão, contra-baixo, pandeiro, guitarra.

Ana Carolina cantava: “...eu não sei parar de te olhar...”, e vozes agudas respondiam: “então não pára”. Ana largava mais um sucesso: “...vou bater na sua porta de noite, completamente nua...”, e as mesmas vozes, agora mais fortes, gritavam frases soltas. A cantora muda o tom e parte para uma nova arma de conquista, declamando versos de Fabrício Carpinejar, escritor gaúcho presente no show.

Entre o fim das rimas e o início da próxima canção uma voz grave, muito grave, declara seu amor pela mineira de 36 anos. Ana procura o locutor com os olhos e dispara: “Opa! Uma voz masculina”. Mulheres protestam e a cantora resolve interpretar mais um grande sucesso: “Sou bi e daí”.

Tirando as muitas brincadeiras e os inúmeros apelos do público pedindo atenção, restam três músicos, canções do último disco duplo, primeiro momento, e clássicos, que são embalados pelas vozes ali presentes. Na música “Quem de nós dois”, tais vozes tomam conta, a cantora debruça o microfone sobre o peito, olha para cima, como quem olha o céu, e se embriaga do reconhecido sucesso.

Ana Carolina fecha o show com a música “Elevador”, muitos levantam das cadeiras, balançam os braços, ficam colados no palco com as mãos esticadas esperando a mão grande, de dedos compridos, suada, envolta com uma pele fina, tipicamente feminina, passar. Ao meu lado, a mulher, que chorou do início ao fim, olha para mim e pergunta: “ela não volta mais?”. Eu, prontamente, respondo: “ela volta para comer a Madona pela segunda e última vez esta noite”.

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