terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma folga para o porquinho


(Texto meu publicado no Jornal Folha Guaibense)

Agora, além de nos dias de chuva, meu cofrinho, no clássico formato de porco, ganhou mais umas folgas. Após o veranico de maio, eu e meu porco conseguimos respirar aliviados. Finalmente, um pouco de paz.

Trabalho no bairro Menino Deus, na rua Saldanha Marinho. Chego às 13h e sempre tem um cara, às vezes mais de um, que diz “Bem cuidado aí, dona”. Pronto, já sei que quando eu voltar terei que sacrificar meu cofrinho e conseguir, no mínimo, algumas moedas para o sujeito que me chama de dona. Que dona que sou? Não tenho nem controle de quem cuida ou não cuida do meu carro. (Não se fazem mais donas como a do Roupa Nova!)

Tenho sérios problemas com os tais guardadores de carros. Na Cidade Baixa, bairro famoso da nossa Capital, um dia, uma guardadora me parou para reclamar dos homens que estacionavam com ela, que eram muito mal educados, agressivos, coisas do tipo. Não consegui cortar a senhora, fiquei mais de dez minutos de papo furado. Ao menos consegui deixá-la mais calma, acho.

Depois disso, o segundo encontro. Disse para um cara desses que não tinha dinheiro no dia e ouvi a seguinte resposta: “Não tem problema a gente acerta amanhã”. Não contente em dizer isso ele completou: “Nem precisa ser muito, só um pouco mais do que tu me darias hoje”. Eu tenho alguma obrigação com esse cara???? Tenho! Se não pago, ele faz o que der na telha. Não convém contrariar um funcionário, potencialmente rebelde.

A mais engraçada e talvez a situação que evidencie de fato a minha relação conturbada com os guardadores de carros de rua aconteceu quase na porta do meu trabalho, no início da tarde. Desci do carro, de óculos, camisa e calça jeans, como sempre vou trabalhar e o cara veio para a volta do carro dizendo que eu era muito linda. Na hora pense que fosse mais uma tentativa de levar o meu porquinho, fui andando pela rua, sem dar muita importância às frases feitas do guardador. Na volta, depois de ter gastado meus miolos numa tarde onde tudo deu errado, apertei o alarme, entrei no carro. Quando olho para o lado, através do vidro e do filme, quem vejo? Sim, o mesmo galanteador de antes. Desta vez, ele fala algo que não entendendo, sem conseguir ouvir, quando me dei por conta já tinha aberto o vidro. Das costas do guardador surge uma flor.

Com o frio que vem fazendo nos últimos dias, perdi meu guardador metido a galã, nunca mais fiquei devendo para o funcionário, potencialmente rebelde, não falei mal do sexo masculino na Cidade Baixa. Todos se foram. Ficamos eu e meu porquinho, que anda pesado, pesado.

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