segunda-feira, 14 de março de 2011

Love In The Afternoon...


Por Juliana Ramiro


Quando a gente resolve passar por uma mudança, seja interna ou externa - como trocar os móveis e a distribuição deles na casa -, a gente sempre se depara com o novo e resgata coisas que ficaram no passado. Esquecidas, perdidas, ocultas, ocultadas. Numa mudança é inevitável viver o novo e reviver o velho, um pouco do que fui, do que tive, do que gostei.

Um título em inglês, uma letra em português. Love In The Afternoon, interpretada pelo grande Renato Russo, faz parte do meu passado. Desde muito nova escuto essa música e ela sempre me trouxe um único sentimento: medo.

Medo de morrer jovem de mais, de perder alguém que gostava muito, de sentir muita saudade, de ter lembranças de tempos felizes, que nunca vou poder resgatar. Medo da vida passar ligeira, de ser levada pelo vento e não saber direito o que foi feito da minha juventude. Se realmente fiz as escolhas certas. E se elas vão me levar pra onde achei que iria.


“Quando eu lhe dizia:
"Eu me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada."
Você sorriu e disse:
"Eu gosto de você também."
Só que você foi embora
Cedo demais...
Eu continuo aqui
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Dia de chuva, dia de sol
E o que sinto não sei dizer.”


Hoje, um novo pensamento me surgiu. Nunca tinha pensado que esta música poderia comportar a narrativa de uma paixão que terminou, não exatamente pela morte, porque as pessoas não precisam perder a vida pra ir embora, mas porque elas morrem do jeito que foram idealizadas por tal paixão.

A gente se apaixona por alguém que imaginamos ser alguém. Costumo pensar que se a gente conhece muito uma pessoa, se torna incapaz de se apaixonar por ela. A paixão vem sempre antes. A gente se apaixona por aquilo que queremos ver, por aquilo que pensamos ser, por aquilo que idealizamos ser possível acontecer.

E claro, embora com o sangue mais frio a gente consiga perceber que foi exatamente isso que aconteceu, quando o sangue ferve a gente cai no mesmo erro. É a mesma paixão que mudou de remetente. E os mesmos cacos que foram deixados para trás.

Às vezes dá saudade? Claro. E em mim dói. Principalmente por saber que minha obra, quem criei para me apaixonar, diante dos meus olhos, NUNCA MAIS SERÁ A MESMA.

E o que sinto? Não sei. Só lamento por teres mudado para meus olhos cedo de mais, cedo demais.


6 comentários:

Tia Yona disse...

Depois da paixão vem o amor. Essa coisa bizarra que faz a gente conhecer tanto a pessoa, acaba com a paixão e ainda assim a gente faz de tudo! Releva os defeitos e tudo o mais que isso acompanha. Nem sempre é ruim que os olhos mudem antes do amor acontecer. Isso só não pode ser uma constante, porque é errando que a gente acerta. E como eu sempre digo: Melhor sofrer do que nunca ter sentido nada! Mais uma vez você detonou no texto, Xu!

Maria Fernanda Candido Paetzel disse...

Essa música me arrasa, Juzita! Por um motivo muito particular, perda para a morte ... e cedo demais!

Mas dentro do seu texto a canção realmente também se encaixa em uma paixão que acabou. Perfeita mesmo para este contexto.

Acho que o que mais dói neste caso específico é: "Eu continuo aqui
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Dia de chuva, dia de sol
E o que sinto não sei dizer." -

Porque a gente continua mesmo quando o outro se vai...continua muitas vezes não porque se quer, mas porque é preciso. Questão de sobrevivência, questão de preservação da espécie.

Nos apaixonamos sim por aquilo que criamos - e matamos essa mesma paixão quando nos damos conta de que aquela pessoa não era nada daquilo que pintamos em nossas folhinhas brancas de papel.

A paixão é burra (e tão boa quanto...). E quando vai embora antes do 'combinado', deixa um vazio e o gosto de 'quero mais'.

Muito bem! Palmas para todo o ato! Próxima cena!

A vida é mesmo esse palco maluco com vários atores que de uma hora para outra passam de principais a coadjuvantes ... e às vezes nem isso.

O importante é nunca esquecer que os atores principais somos nós mesmos - e que ninguém nos derruba! (Pelo menos não pelo resto de nossas vidas...rsrsrs).

A paixão muda mesmo de remetente, Ju ... e o melhor é que quando menos esperamos - esquecemos o endereço antigo...

"Amores são sempre possíveis" - adoro essa frase! E ela me faz acreditar fielmente nisso!

Paixão é uma delícia, mas eu prefiro o amor. Sólido e conhecedor de quem está ao lado. Sem máscaras, sem pinturas, sem rascunhos!

O amor não vai embora 'cedo demais'.

Beijos, Juzita!!!! ;)

Juliana Ramiro disse...

"Amores são sempre possíveis".
Linda essa frase mesmo.
E, como sempre, lindos teus apontamentos sobre meu texto.
Já disse, tu devias escrever para o meu blog, íamos fazer sucesso. hehehe
bjo querida

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lua disse...

Nossa, visceral seu blog! Gostoso de ler, mesmo que, por vezes, deixe um gosto amargo na boca... Parabéns!

Juliana Ramiro disse...

Apareça sempre que puder e quiser =) bjo