segunda-feira, 16 de maio de 2011

O preço de ser diferente





Por Juliana Ramiro




Todo pai deveria se orgulhar de ter um filho diferente. Na vida, não é o que acontece. O diferente sofre, não é compreendido. Há uma guerra de forças entre pais e filhos diferentes. Os pais tentando fazer os filhos mais iguais, os filhos tentando fazer com que os pais valorizem sua diferença.
No trabalho o diferente é reconhecido. Na faculdade, também. O diferente é aquele que os amigos elogiam o empenho, a força, a determinação. O diferente é aquele que é pego sempre de exemplo de luta, de espelho. Até os pais de filhos comuns usam os diferentes para estimular seus filhos normais. Só mesmo o pai do diferente não é capaz de aceitá-lo.
Eu sou diferente. Eu não usei drogas na adolescência para ser rebelde. Não andei com grupos barra pesada. Não fui mal na escola. Não repeti de ano. Não matei aula. Não fiz 10 anos de pré-vestibular. Não troquei de curso na faculdade, por indecisão. Sempre soube o que queria. Não rodei em nenhuma cadeira. Não usei roupas indecentes. Não fui a sabonete da cidade. Não namorei caras sem futuro. Não transei com um professor no ensino médio. Não matei aula. Não peguei o carro sem pedir. Não aprendi a dirigir antes dos 18. Não engravidei com 18. Não completei 30 anos morando e sendo sustentada por meus pais. Não fiz escolhas cômodas. Não culpei meus pais de nada. Não fiz terapia.
Hoje, com 22 anos de idade, muitas pessoas me elogiam pelas escolhas que fiz, pelas dificuldades que passei e passo, por onde cheguei. Muitas pessoas reconhecem meu esforço e minha diferença como algo bom. Já ouvi muito “é difícil encontrar alguém com a tua idade e tua maturidade, tuas conquistas”. Estes elogios e apoio só não vem de quem eu mais queria.
Este é o preço de ser diferente. Viver esperando compreensão de quem passou 22 e vai passar outros tantos tentando me colocar na forma do comum.



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Onde está o Leão?





Por Juliana Ramiro



Dizem que quanto mais velho se fica, mais a gente se aproxima do nosso ascendente. Vai perdendo as características do nosso signo e ganhando uma nova forma. Pois a vida me trouxe uma nova teoria. Ou talvez seja apenas uma mutação particular, minha.
A dor me aproximou do meu ascendente. Sofrer me torna cada dia mais Peixe. Onde está o Leão que me habitava? Onde está sua força? Minha força? Nossa força? Onde está a coragem? A determinação? Aquele sentimento de poder SIM ter tudo que quero? Onde foi parar o Leão que ruge, que assusta, que protege, que se comporta como o Rei da Selva, e possui a postura de rei?
Onde está o Leão que controla e cuida da vida dos habitantes de seu reino? Onde foi parar o Leão que serve de porto seguro para família, amigos, amores? Onde está o Leão que todos orgulham-se e que eu me orgulhava de ser?
Nunca me senti tão Peixe. Um Peixe pequeno, restrito ao mundo das águas, passando meus dias remando de um lado para o outro sem um rumo certo. Um Peixe que pode ter as melhores intenções, mas sem braços, nunca conseguirá acolher os seus. Um Peixe que não é temido, tão pouco admirado. Um Peixe frio, molhado, presa fácil para outras tantas espécies. Sinto que a qualquer momento posso ser devorada por um pássaro, ou mamífero, por homens. Um Peixe de olhos saltados e tristes. Olhos inchados de tanto alimentar o seu próprio meio – água. Um Peixe frágil, acovardado, que tem boca, mas não fala, não grita.
No auge da minha existência Peixe, eu só queria recuperar, nem que fosse a juba do Leão que fui.






terça-feira, 10 de maio de 2011

Parece que tudo é e foi dela




Por Juliana Ramiro


A cama estendida, meus sapatos dentro do armário, os pijamas dobrados, a pasta de dente, os pratinhos dos gatos cheios de comida. A escova no banheiro, ao lado da minha, a louça no escorredor, a pasta que organizo meus papéis, os bilhetes no mural, os filmes de um dia de molho. A barra de chocolate no balcão, o meu coração, a minha alegria, a minha casa.
É difícil ficar com todas essas coisas perto e longe do principal. E mesmo que nada disso existisse, ainda tenho lembranças, carinhos, conchinhas, abraços, histórias, sorrisos, risos, choros, planos e sentimento.
É impossível apagar tudo isso e não quero. É impossível não sentir falta. É impossível não lamentar pelo caminho. É impossível sorrir como antes. É impossível não lutar para ter o que é meu e tudo que é dela de novo.





“Vejo a vida passar sem graça
No vazio dessa casa
Fico a imaginar, você parece estar aqui
Pode ser que eu esteja sonhando demais
Só eu sei quanta falta você me faz” (Fábio Jr.)





sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu finjo ter paciência...


Por Juliana Ramiro



Com gente burra. Com gente que não sonha alto. Com quem não vai atrás de seus sonhos. Com quem vive aparentemente feliz. Aparentemente rico. Aparentemente cheio de amigos. Com quem não se dá conta que passou. Que é passado. E que passado não é só uma nomenclatura, mas um tempo que já não existe. Com quem mente para si mesmo. Com quem não sabe fazer escolhas. Com quem julga sem olhar para o próprio umbigo. Com quem leva tudo ao pé da letra. Com quem acredita cegamente em religião, política, ideologia, ou o que seja. Com quem não tem argumento. Com quem fala mal, mas quando precisa “paga pau”. Com quem se aproxima das pessoas por necessidade. Com quem não admite que sua vida não é tudo isso para aí sim poder fazer diferente. Com quem diz ser cheio de amigos, mas senta numa mesa de bar sozinho. Ou com desconhecidos. Com quem torce para que relacionamentos terminem para não se sentir tão encalhado. Com quem não admite seu peso, sua altura, seu cabelo, sua existência. Com quem coloca inocentes no mundo e os renega como se tivessem culpa. Com quem abandona a família. Com quem espanca os filhos. Com quem trai a si mesmo. Com quem mente que ama. Com quem mente olhando nos olhos de quem quer que seja. Com quem agride a mãe. Com quem faz maldade. Com quem não sabe amar. Com quem maltrata inocentes. Com quem baixa a cabeça para tudo. Eu finjo ter paciência com quem sabe que é algo do que escrevi até agora e não faz nada para ser diferentes.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Never let me go...


Por Juliana Ramiro


Não quero mais partir
Tenho motivos para ficar
E o principal - Você

Nem sempre é fácil
E mesmo o difícil parece bom
Quando tudo que vejo
É iluminado por esse sorriso

O teu riso é música
O teu amor, poesia
O meu cantar, nossa alegria
O teu corpo, meu lar

Quero fazer ninho nessa rua
E dividir minha morada
Com quem aprendi amar

Quero gritar o sentimento
E não ligar para a lamúria
De quem não consegue aceitar


(POESIA INSPIRADA NA MÚSICA LOVE ME TENDER E, CLARO, NO AMOR)