Talvez tenha sido o post mais fácil de ser registrado. Costumo dizer que minhas idéias ficam maturando na cabeça. Identifico um bom tema, algo sobre o que gostaria de escrever e fico mentalmente divagando sobre ele, até que encontro uma música que o faz sair de mim. O texto passa da cabeça para os dedos, dos dedos para o papel. Dessa vez nem precisei de música, e nem de muito tempo. Dedico o ágil processo a uma amiga que leu a mim um texto do Carpinejar ao telefone.
A crônica falava do sofrer, dos tipos de sofrimento, das escolhas que fazemos. Minha vontade era, enquanto ela lia já ir colocando no papel toda a minha revolta. Estou cansada de gente que acha que pode medir o amor pelo sofrimento que ele causa. Quem disse que quem ama tem que sofrer um dia? Quem disse que um relacionamento para ser intenso tem que machucar, doer, sangrar? Quem disse que porque eu não estou atirada numa cama, não estou emagrecendo e chorando dia e noite não possa estar sofrendo? Sofrer ou não nem sempre é uma escolha. Consumir-se dentro deste sentimento é.
E eu opto pela vida. SEMPRE. Acho que drama não resolve as coisas. E cada dia mais observo que o melhor, o mais verdadeiro, nem sempre é o mais dramático. Estamos falando de vida real não de novela mexicana. O roteiro é permeado por contas a pagar, amigos a divertir, trabalhos a realizar, uma vida para viver.
SINTO MUITO, PORÉM NO MEU ROTEIRO NÃO SOBRA TEMPO PARA DEMONSTRAR SOFRIMENTO. SOU O TIPO QUE DEMONSTRO O AMOR. O AMOR A MIM, A MINHA VIDA E AQUELES QUE ME FAZEM BEM.
( Música que acabou com meu primeiro sofrimento amoroso aos 15 anos )
Fazia tempo que não participava de um Sarau. Aliás, fui a vário como ouvinte. Só participei num. E lembro até hoje, nele descobri que, mesmo tímida, ter a atenção dos outros era algo que me atraía. Meu assunto não é o Sarau, mas uma das conversas que rolaram nele - o Teatro Mágico. Banda, espetáculo, show, não sei como descrever o que é o Teatro, talvez um teatro mesmo. Enfim, as letras são ótimas e uma delas, em especial, ficou martelando minha cabeça a semana inteira. Entre uma atividade e outra, eis que surgia a história da Bailaria e do seu par, o Soldado de Chumbo, na minha boca. Não tinha como a música não virar tema aqui.
“De repente toda mágica se acabou
E na nossa casinha apertada
Está faltando graça e está sobrando espaço
Estou sobrando num sobrado sem ventilador”
Tudo que sobra num relacionamento é ruim. Tudo que falta também. Estar sobrando ou faltando é sinal de que não está na medida certa, não existe um equilíbrio. Um copo vazio muitas vezes não mata a sede. Um copo muito cheio transborda, derrama, acaba molhando o chão.
Os mais materialistas vão dizer que dinheiro sobrando é bom, não é, primeiro por que, na verdade, nunca sobra. O que não se gasta num mês se gasta no outro, investe-se. Agora me diz: Tem como investir amor para não sobrar? O que não conseguimos amar neste mês vamos amar no próximo, e tudo bem? Ou se faltou amor. Até quando um vai esperar o outro ressarci-lo dessa falta?
“Vai dizer que nossas preces não alcançaram o céu?
Coração, que ainda vem me perguntar o que aconteceu
Conta se seu rosto por acaso ainda tem o gosto meu”
O difícil é aceitar que não existe o equilíbrio, é pensar que tem coisa de mais ou coisa de menos naquilo que era para tão perfeito. O difícil é entender que não é a gente que está querendo demais, é que está faltando mesmo. Nessas horas a cabeça tenta mostrar o real, no entanto o coração da Bailarina segue tentando se iludir. O difícil é entender que a Bailaria do Soldado de Chumbo precisa seguir sem ele, e que isso é melhor para os dois. O difícil é:
“Nossa casinha vazia
Parece pequena sem o teu balé
Sem teu café requentado
Soldado de Chumbo não fica de pé”
E, mesmo assim, seguir, esperando que o tempo ponha, mais uma vez, tudo no seu devido lugar.