Por Juliana Ramiro
Dia de chuva bate aquela melancolia e a nostalgia me assola. Gosto de lembrar o passado e utilizo meus livros para recordar minhas próprias histórias. Depois de assistir um pouco de TV resolvi sentar na frente da estante de livros e buscar nas minhas anotações e inúmeras páginas dobradas algo que já tivesse lido, gostado e que voltasse a conversar comigo. Entre os livros achei Teresa, de Manuel Bandeira.
Ahhh, Teresa, por muito tempo achei que não existiam pessoas como tu, ou que eu, infelizmente, nunca conseguiria me apaixonar por alguém assim. Para quem não conhece os versos de Teresa, aqui estão:
“A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.”
Para mim o difícil de ter uma Teresa sempre foi resistir os primeiros olhares. Perceber seus olhos velhos, suas pernas estúpidas e mesmo assim lhe dar tempo. Tempo para que pudesse misturar meu céu e minha terra, mexer nos meus sentidos, trazer-me a paz e, junto, uma história sobre águas claras e tranqüilas.
Sempre achei que para ser amor tinha que ser forte, avassalador, quente demais, dolorido demais, apaixonante demais. Mas só quando se dá espaço a uma verdadeira Teresa é que se descobre que a tranqüilidade e amor, na maioria das vezes, caminham juntos.
E se descobre que o amor nem sempre acontece quando pousamos nossos olhos sob a pessoa mais bela, a mais emocionante, a mais cheia de mistérios, a que nos tira mais do sério logo que a conhecemos. Pessoas assim, nas experiências que tive, mostraram-se Teresas ao contrário. Num primeiro momento, diante dos meus olhos pareciam anjos, seres de outro esfera, capaz de mexer com a terra, o céu, o ar, tudo. Num segundo momento, cometem um deslize que ainda não estamos aptos a perceber, pois ainda estamos sob o efeito do primeiro contato. Da terceira vez que estamos diante dessas falsas Teresas, seus olhos penetrantes e pernas celestiais dão espaço a atitudes estúpidas.
Não sei se todos concordam comigo, mas a vida me ensinou que mais vale darmos tempo a Teresas de olhos velhos e pernas estúpidas para que atinjam e deixem nosso coração em paz, do que apostar em falsas Teresas que nos cativam com a beleza porque por dentro não têm mais o que nos oferecer.
Saudações a todas as Teresas que existem no mundo. E aqueles que sabem apreciá-las.
* Texto lido no programa Eu tô falando de amor, da rádio 2 IGUAIS, dia 14/03
2 comentários:
Juliana,
Adorei o post, assim como gosto muito do que escreves. E vivam as Teresas e viva o novo olhar que nos permite admirar, encontrar e buscar a companhia dessas novas mulheres.
Beijos
Denise
Obrigada pelo comentário, Denise.
Sempre que der passa por aqui.
Abraço,
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