quarta-feira, 26 de novembro de 2014

To taste the sweet, I face the pain

“I broke my heart for ev'ry gain
To taste the sweet, I face the pain
I rise and fall, yet through it all this much remains”


Muitas músicas abordam o mesmo tema – o tal do levantar e cair, do superar a si mesmo, do arriscar. Ouvindo “One moment in time”, um clássico da Whitney Houston, interpretado por uma das vozes do The X Factor de 2014, fiquei me perguntando o que significa levantar e cair e quem de fato se permite cair.

Pra mim, só supera a si mesmo quem admite-se quebrado. Como diz a música, só prova o doce da vida quem enfrenta o sofrimento e o amargo de viver. Mente quem diz que a vida pode ser sempre doce. Também, que graça teria? A vida é feita de doces e azedos. E só valorizamos o doce quando somos capazes de aprender com o azedo. Quem não se admite superável, não constrói uma nova forma de ser. A dificuldade de admitir-se quebrado está na tênue linha entre levantar e nunca mais conseguir juntar os cacos. Tem gente que cai, quebra e não descobre a cola.

Entre os quebrados que nunca se colam e aqueles que quebram, colam-se e tocam o barco existe algo de louvável em comum – eles tentaram. A pior existência, e aqui é um julgamento de quem diariamente é julgado, é a mera existência. Viver é quebrar. Quem não se deixa quebrar, ou não se admite assim, apenas existe e nunca chegará ao doce. O doce da vida não é para crianças, mas para quem cresce, cresce por dentro e cresce por fora. Talvez os “existentes” forjem o doce como forjam a própria vida. E vivem tão amargos que são incapazes de ignorar ou encarar com leveza a vida de quem quebra, de quem tenta. O preconceito mora na indestrutível casa dos eternamente amargos.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Não voto em partido, voto em pessoas



Por Juliana Ramiro

"A convergência do eleitorado para o centro político, distanciando-se progressivamente dos projetos políticos extremados, foi acompanhada pela tendência centrípeta dos partidos, formando o que a literatura especializada chama de partidos catch-all [aqueles que aproximam-se do centro político, onde está a maior parcela dos eleitores, na busca da maioria dos votos]. O resultado da eleição de um partido assim é a sub-representação das minorias, colocando em cheque o próprio modelo representativo de governo."*

O trecho é de um artigo escrito em 2002, texto que nas últimas eleições fez-se extremamente atual. Temos espaços de poder atolados de representantes de partidos políticos que, de verdade, não representam as minorias, nem representam de forma ampla todas as “fatias” da nossa sociedade (o que garantiria a plena democracia).

Vem desta tendência centrípeta a dificuldade dos eleitores de escolherem seus representantes. Os partidos acabaram todos muito parecidos, parecidamente agradáveis para os eleitores, dificultando a tomada de decisão. Vem daqui também o papo do “não voto em partido, voto em pessoas”, pois, sendo a grande maioria praticamente semelhantes, os eleitores passaram a buscar elementos nos perfis pessoais dos candidatos para justificar o voto.

Nisso, Collor se elegeu por ser bonito, FHC por ser intelectualizado, Lula por ser um legítimo representante das histórias de pobreza do Brasil. Não estou afirmando que os acima citados não têm atributos que legitimam suas eleições. Reconheço o lado bom de cada um. O que quero alertar é que votamos em pessoas e essas pessoas carregam orientações partidárias, mesmo que centrípetas e rasas, mesmo que finjam que não para conquistar a maioria dos votos, e essas pessoas deveriam ser nossos representantes. Se não conhecemos suas ideologias, suas orientações, a quem servem, como podemos afirmar que, de fato, um candidato nos representa?!

Eu respondo, baseada nos apontamentos de Alexis de Tocqueville (1987), de que os indivíduos estão prioritariamente voltados para o seu próprio bem-estar, concentrados nas atividades que garantem a sua sobrevivência ou enriquecimento pessoal. Por isso, não encontramos tempo para nos dedicarmos aos negócios públicos. Votamos com nosso umbigo e reclamamos da política pelo mesmo buraco (só pode).

* Propaganda Política e a Construção da Imagem Partidária no Brasil: Considerações Preliminares (Afonso de Albuquerque e Marcia Robeiro Dias)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Urgente! Olhemos para dentro



Por Juliana Ramiro

Duas verdades da vida. A primeira delas é que a dor tende a nos deixar cegos. A segunda é que o sentimento de injustiça nos torna cada vez mais injustos. Parece estranho? Não é. Quando a gente perde alguém próximo, por uma fatalidade ou brutalidade tendemos a buscar culpados e sempre os achamos e, diante de tamanha dor e injustiça, porque a morte é sempre dolorida e injusta, traçamos nossos julgamentos, chegando, na maioria dos casos, a duas conclusão: o mundo não tem jeito, as pessoas não prestam.

Na semana passada um dado me fez refletir sobre isso. Li uma matéria na Super Interessante que o título era: Suicídio mata mais que homicídios, guerras e desastres naturais. O número mundial de pessoas que tiram a própria vida é de 883 mil por ano contra 699 mil vítimas. De fato as pessoas só podem estar prestando cada vez menos, ou pensando que não prestam e duvidando das chances de termos um mundo melhor. Tal hipótese validaria os números.

Hoje estamos cegos, injustos e rasos. A nossa dor é sempre maior que a do outro, assim, somos incapazes de oferecer a mão. Duvidamos das chances de um mundo melhor pois efetivamente não fazemos nada para isso. Jogamos para o outro uma responsabilidade que também é nossa. Ninguém fala em construir algo melhor, construir na primeira pessoa, ou construir no nós, no vamos.

Enquanto estamos pondo a culpa no governo corrupto, na malandragem das pessoas, na falta de escrúpulos, na ausência de respeito com o próximo, culpando assaltantes e assassinos de fazerem do mundo um mundo pior, pessoas a nossa volta tiram suas próprias vidas. Quem afinal é o vilão da história? Estamos tão preocupados com guerras, guerrilhas, ataques e esquecemos que nossas próprias mãos podem matar nossos próprios sonhos.

Pode parecer louco, mas pra mim faz todo sentido.