sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Não voto em partido, voto em pessoas



Por Juliana Ramiro

"A convergência do eleitorado para o centro político, distanciando-se progressivamente dos projetos políticos extremados, foi acompanhada pela tendência centrípeta dos partidos, formando o que a literatura especializada chama de partidos catch-all [aqueles que aproximam-se do centro político, onde está a maior parcela dos eleitores, na busca da maioria dos votos]. O resultado da eleição de um partido assim é a sub-representação das minorias, colocando em cheque o próprio modelo representativo de governo."*

O trecho é de um artigo escrito em 2002, texto que nas últimas eleições fez-se extremamente atual. Temos espaços de poder atolados de representantes de partidos políticos que, de verdade, não representam as minorias, nem representam de forma ampla todas as “fatias” da nossa sociedade (o que garantiria a plena democracia).

Vem desta tendência centrípeta a dificuldade dos eleitores de escolherem seus representantes. Os partidos acabaram todos muito parecidos, parecidamente agradáveis para os eleitores, dificultando a tomada de decisão. Vem daqui também o papo do “não voto em partido, voto em pessoas”, pois, sendo a grande maioria praticamente semelhantes, os eleitores passaram a buscar elementos nos perfis pessoais dos candidatos para justificar o voto.

Nisso, Collor se elegeu por ser bonito, FHC por ser intelectualizado, Lula por ser um legítimo representante das histórias de pobreza do Brasil. Não estou afirmando que os acima citados não têm atributos que legitimam suas eleições. Reconheço o lado bom de cada um. O que quero alertar é que votamos em pessoas e essas pessoas carregam orientações partidárias, mesmo que centrípetas e rasas, mesmo que finjam que não para conquistar a maioria dos votos, e essas pessoas deveriam ser nossos representantes. Se não conhecemos suas ideologias, suas orientações, a quem servem, como podemos afirmar que, de fato, um candidato nos representa?!

Eu respondo, baseada nos apontamentos de Alexis de Tocqueville (1987), de que os indivíduos estão prioritariamente voltados para o seu próprio bem-estar, concentrados nas atividades que garantem a sua sobrevivência ou enriquecimento pessoal. Por isso, não encontramos tempo para nos dedicarmos aos negócios públicos. Votamos com nosso umbigo e reclamamos da política pelo mesmo buraco (só pode).

* Propaganda Política e a Construção da Imagem Partidária no Brasil: Considerações Preliminares (Afonso de Albuquerque e Marcia Robeiro Dias)

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