Por Juliana Ramiro
"A convergência
do eleitorado para o centro político, distanciando-se
progressivamente dos projetos políticos extremados, foi acompanhada
pela tendência centrípeta dos partidos, formando o que a literatura
especializada chama de partidos catch-all [aqueles que aproximam-se
do centro político, onde está a maior parcela dos eleitores, na
busca da maioria dos votos]. O resultado da eleição de um partido
assim é a sub-representação das minorias, colocando em cheque o
próprio modelo representativo de governo."*
O trecho é de um
artigo escrito em 2002, texto que nas últimas eleições fez-se
extremamente atual. Temos espaços de poder atolados de
representantes de partidos políticos que, de verdade, não
representam as minorias, nem representam de forma ampla todas as
“fatias” da nossa sociedade (o que garantiria a plena democracia).
Vem desta tendência
centrípeta a dificuldade dos eleitores de escolherem seus
representantes. Os partidos acabaram todos muito parecidos,
parecidamente agradáveis para os eleitores, dificultando a tomada de
decisão. Vem daqui também o papo do “não voto em partido, voto em pessoas”, pois, sendo a grande maioria praticamente semelhantes,
os eleitores passaram a buscar elementos nos perfis pessoais dos
candidatos para justificar o voto.
Nisso, Collor se elegeu
por ser bonito, FHC por ser intelectualizado, Lula por ser um
legítimo representante das histórias de pobreza do Brasil. Não
estou afirmando que os acima citados não têm atributos que
legitimam suas eleições. Reconheço o lado bom de cada um. O que
quero alertar é que votamos em pessoas e essas pessoas carregam
orientações partidárias, mesmo que centrípetas e rasas, mesmo que finjam que não para conquistar a maioria dos votos, e essas
pessoas deveriam ser nossos representantes. Se não conhecemos suas
ideologias, suas orientações, a quem servem, como podemos afirmar
que, de fato, um candidato nos representa?!
Eu respondo, baseada
nos apontamentos de Alexis de Tocqueville (1987), de que os
indivíduos estão prioritariamente voltados para o seu próprio
bem-estar, concentrados nas atividades que garantem a sua
sobrevivência ou enriquecimento pessoal. Por isso, não encontramos tempo para nos dedicarmos aos negócios públicos. Votamos com nosso
umbigo e reclamamos da política pelo mesmo buraco (só pode).
* Propaganda Política e a Construção da Imagem Partidária no Brasil: Considerações Preliminares (Afonso de Albuquerque e Marcia Robeiro Dias)
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