quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Existe arrependimento sincero?



Por Juliana Ramiro

Estou numa semana daquelas que olho para a minha gatinha, a Ana, e penso que o mundo seria melhor se todas as relações humanas tivessem um pouco dela. A Ana é sempre verdadeira, transparente. Olho pra ela e sei se tá feliz, triste, cansada, incomodada com algo. Depois de tanto confiar nos humanos, vejo que dar créditos a um animal vale mais a pena. Sei que todos os bichos não são iguais - existem gatos traiçoeiros. Mas a Ana não é assim, gosto desse jogo limpo. Ela faz coisas que eu desaprovo, e grito com ela. Entende que não gostei, e vem se chegando, de mansinho, se rolando na minha frente - sua forma de pedir desculpa. E sei que tá sendo sincera. Pisou na bola, todo mundo pisa.
ESTOU FALANDO DE UM ANIMAL. Dizem que o ser humano é mais inteligente que os animais, sendo assim, conversar com um, apontar seu erro e ele entender, me parece algo natural. É? NÃO. O ser humano é egoísta, mesquinho, sujo. Embora seja um ser que depende boa parte da vida de outros para sobreviver, assim que consegue viver sozinho, esquece sua origem e joga sozinho, doa a quem doer.
Uma pessoa viver sozinha eu não vejo problema. Vivo. Acho que todo mundo, em algum momento da vida, anseia seu espaço. Agora morar sozinho é diferente de pensar só em si, como se estivesse sozinho no mundo, como se seu umbigo fosse o palco, e todo o resto, fantoches. ISSO EU NÃO ADMITO.
Uma pessoa que passa por cima de todo mundo, que pisa, humilha, machuca, envolve, morde, bate, e faz tudo isso com um número considerável de pessoas lhe dizendo que isso é errado, feio, sujo, pode, sinceramente, um dia se arrepender de tudo isso? E esse arrependimento é porque Deus é justo e faz ela pagar pelo que fez, ou essa pessoa se arrepende pelo que causou para os outros? É uma questão de onde aperta SEU sapato ou os sapatos alheios?
Não consigo acreditar na sinceridade de um arrependimento tardio. Por que algumas pessoas precisam chegar ao limite de tudo, pra resolver voltar atrás? E todo mau que causaram? Todo sofrimento que deixaram? Como fazer vista grossa a tudo isso e PERDOAR.
Uma pessoa assim merece perdão? Que valor tem o perdão humano? O perdão humano não seria só uma forma de fazer com que essa pessoa possa deitar em seu travesseiro e conseguir dormir tranqüila, feliz e perdoada, enquanto as feridas que deixou continuam arregaçadas? Eu não consigo entender a ingratidão humana.
Acho que a gente é ingrato, principalmente, quando é criança. Lembro que minha mãe fazia o almoço, em tempo recorde, porque já tinha mais um turno de trabalho pela frente, e eu reclamava da comida, não queria comer. Muitas vezes ela chorava, triste com a minha atitude, e aquilo partia meu coração de tal forma, que tudo que eu queria naquele momento era me causar uma dor maior, para que pudesse de alguma forma pagar por aquilo. E eu me batia, me apertava, socava a parede, e dizia pra mim que nunca mais seria daquele jeito. E confesso que até hoje, às vezes, me sinto ingrata, mas nos primeiros sintomas de ingratidão, já tento reverter o jogo. E é por isso que não consigo entender como as pessoas podem ser tão ingratas, e de tantas formas, e por tanto tempo, e deitar a cabeça no travesseiro e dormir.
Isso tudo me causa uma revolta, um nó na garganta. Seja a ingratidão comigo ou com qualquer outro inocente.

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