Por Juliana Ramiro
Estou numa semana inspiradora, semana de mudanças, realizações. Papéis encaminhados, tornando real o sonho da casa própria. Semana daquelas que a gente não caminha, pula de alegria. Hoje acordei cedo, cheguei ao trabalho e, como de costume, abri meus e-mails e redes sociais. O primeiro texto que pulou nos meus olhos foi “linkado” por uma amiga, ela sabia o quanto aquelas palavras seria interessantes para mim. E foram. Muito. Tanto que resolvi escrever sobre elas.
“Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. (...) Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.” (Eliane Brum – colunista Época)
Nem sempre tive a melhor relação do mundo com meus pais, sou uma pessoa difícil e, claro, herdei muito deles. Em épocas mais conturbadas, penso que seria melhor ser alguém mais simples, que isso traria uma paz constante para nossa relação pais e filho. Ser fácil me parece pobre, admirável, mais vazio. Costumo dizer que não nasci para isso, assim, a idéia de facilitar as coisas entra, mas logo sai dos meus pensamentos, que são muitos.
Desde muito pequena pensar é um exercício constante. Minha mãe que o diga. Lembro como se fosse hoje, devia ter uns 11 anos, e todas as minhas conversas com ela começavam assim: “Mãe, sabe o que eu tava pensando...”. E a partir dali ela ouvia meus plano para o futuro, o que eu ia fazer de faculdade, a carteira de motorista que queria tirar, onde gostaria de morar, meus planos de morar sozinha, os próximos cursos que faria. Depois de ouvir, ouvir e ouvir, lá pela décima vez que introduzia o “Mãe, sabe o que eu tava pensando”, ela dizia: Filha, pára de pensar um pouquinho, vamos viver o hoje.
Viver o hoje foi sempre uma dificuldade para mim, confesso. Sempre quis estar adiante. Chegar na frente, ser logo gente grande, ter responsabilidades. Acho que isso é mérito meu, mas tem muito de meus pais. Posso dizer que fui uma criança que ouvi uns “Te vira, meu filho”. E com o tempo, deixei de ouvir, pois peguei gosto por me virar cada vez mais sozinha. Não fui uma criança triste por ouvir, desde sempre, que a vida não era um morango, que chantilly era caro, que éramos pobres e que tudo viria mediante muito esforço. Tive ótimos exemplos e aprendi a dar valor às coisas simples, como um almoço em família, um chá com bolacha Maria.
Hoje, sempre consulto meus pais para grandes realizações, mudanças, e conto com o apoio deles. Mas a palavra final é sempre minha. Isso me faz bem. Como diz Eliane Brum na sua coluna, e eu apoio, crescer é compreender que a vida é insuficiente, e que por isso é melhor não perder tempo. O meu maior medo é não ter tempo de fazer tudo que passa pela minha cabeça. Por isso vivo em constante corrida. Viver correndo é ruim? Não sei. Há quem diga que sim. Como cantou Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Eu aceito a dor e faço a delícia, a minha recompensa, valer muito a pena.
Um comentário:
Menina, eu sei o quanto é importante a conquista da casa própria. Vejo isso todos os dias em uma profissão que me realiza!
Parabéns!
E parabéns também pela alegria explícita no texto!
A simplicidade (neste caso leia: ser uma pessoa menos complexa) - nem sempre é vazio - afinal: "cada um sabe a dor e a delícia (mesmo) de ser o que é." E facilitar às vezes é menos doloroso...
Correr sempre é bom, desde que haja preparo para isso. Segue correndo e carrega contigo sempre essa vontade louca de viver!
Beijão!
Fê.
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