quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Quem disse que os animais não nos ensinam a entender os humanos?



Por Juliana Ramiro


Minha gatinha, a Ana, esta aqui da foto, vem aprontando coisas que me deixam furiosa, mas, passado um tempo, de cabeça fria, essas coisas fazem-me pensar na nossa relação e, como sempre, vou além. Nas últimas semanas aumentei minhas atividades e pouco fico em casa com ela. E o que ela faz? Testa meus limites e me obrigada a lhe dar atenção. Na mesma semana ela comeu até quase explodir e vomitou duas vezes pela casa, começou a fazer coco fora da caixa de areia, e, na última noite, veio o pior.

Acordei com as pernas molhadas e com cheiro de xixi, logo pensei: que vergonha, voltei a fazer coisas de quando era piá, sonhar que tava no banheiro e... xixi na cama. Num exame rápido de toque descobri que aquele xixi não podia ser meu, era da ANA. Detalhes muito importantes de tudo isso - ela nunca vomitou, e nem fez suas necessidades fisiológicas fora da caixa de areia, NUNCA.

Seis horas da manhã estava eu limpando a cama, colocando as cobertas pra lavar e improvisando uma cama pra dormir até começar oficialmente meu dia. Todos podem imaginar a minha raiva, com um borrifador de água nas mãos, decidi que ela não ia mais dormir comigo, subir na cama.

Agora, passada a raiva, vejo que tudo isso, ou parte disso, é culpa minha. Quem não precisa de atenção? Carinho? Amor? E quem tem todas essas coisas e, da noite pro dia, fica sem e fica numa boa? Se eu fosse a Ana faria coco na minha cabeça pra ter a atenção que tinha antes. Quantas vezes já abri o jornal, ou liguei a TV e ouvi histórias de pessoas que foram deixadas pelo ser amado e resolveram o problema dando um fim na vida do outro, quando não na sua também.

Fico feliz de estar viva (risos). E de ter a chance de pensar na nossa relação, de entender que se eu preciso de atenção, ela também precisa. E como é importante, às vezes, parar, parar tudo, largar o dia-a-dia, abandonar as tarefas e olhar para o outro e perguntar: tá tudo bem? As coisas estão boas pra ti? Tem alguma coisa que a gente pode melhorar? Tarefa tão difícil quanto secar um colchão com xixi dentro de um apartamento que passa o dia inteiro fechado. Contudo, tentar já tem valor, já deve ser valorizado. Ter uma relação com alguém é ter um compromisso diário com experiências... experimentar, provar, fazer testes, tarefas, temas de casa, investir para fazer dar certo.

Quem disse que os animais não nos ensinam a entender os humanos? Acho que a recíproca também é verdadeira.

*Escolhi essa música porque a acho um amor, e conta um pouco do cotidiano da Ana.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Meu Eu em Você

Por Juliana Ramiro

Mais um dia que uma música me faz viajar na vida, num sentimento. Victor e Léo, dupla sertaneja romântica, Meu Eu em Você. Podem dizer que eu sou brega, caipira, cafona, o que quiserem, o fato é que não monto meu playlist por artista ou estilo musical. Vou ouvindo tudo que posso e seleciono algumas canções pelo que elas me trazem - letras, ritmos, interpretações. Cada uma com seus pontos fortes e fracos. Peço que não tenham preconceito, sigam lendo... ouvindo... e depois digam se valeu ou não a pena.
Já tinha ouvido essa música outras vezes mas nunca escutado o que ela tinha pra me dizer. Sim, acredito que as canções têm sempre algo a nos dizer, e que não é numa primeira audição que conseguimos captar. Viagem minha ou não, destaco o grande final como a melhor parte.

“...Sou teu ego, tua alma
Sou teu céu, o teu inferno a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada
Eu sou o teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou meu eu em você...”


Sentimento. Amor. Quantas vezes a pessoa que amamos é a nossa redenção, nos leva para o céu num abraço, e já no estante seguinte, numa briga, o nosso inferno, a nossa fonte de ira, de raiva. Passado um tempo, as mesmas mãos que empurraram, que apontaram a saída, que bateram a porta, voltam e se entrelaçam nas nossas costas nos devolvendo a calma, e, novamente, nos apontando o caminho do céu.
Como o amor é um sentimento complicado. E não há como negar que ele caminhe junto com um companheiro bem oposto. Tudo que sentimos quando nos dizemos amando, assim, do nada, some, deixando no lugar sensações muito contrária. Contraditório.
Contraditoriamente sublime é o amor. É sofrido e alegre, simples e ao mesmo tempo quase incompreensível. Alguém pode ser tudo pra gente, e a gente pensa que sem essa pessoa é impossível respirar direito, viver. E, ao mesmo tempo, sabemos que a tal pessoa não é nada demais, porque antes dela existir, existia vida, ar, luz, trajetória, existia história.

“Sou meu eu em você”

Juntos somos nós, mas quando eu for embora será que você será você de novo? Eu espero deixar algo de mim por onde passo e sempre trago algo do caminho.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

“Quem deixou a segurança de seu mundo por amor”




Por Juliana Ramiro

Semana passada, sexta-feira, a minha sexta da preguiça, fiquei na cama até às 11h e acabei, não sei bem por que, lembrando da música “O mundo anda tão complicado”, do Legião Urbana. A canção é linda e fala do cotidiano de um casal. Pra quem não conhece, clica no vídeo e vai ouvindo, enquanto lê o post.

“Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo por amor”



Essas duas estrofes são as finais da música e quero destacá-las porque acho que falam muito bem de algo que a pouco passei a compreender e valorizar. Por muito tempo tive sérios problemas em manter qualquer relação que era baseada no convívio. As pessoas me cansavam. Minha sede pelo novo me fazia perder o interesse.

Passei muito tempo buscando a pessoa perfeita, os amigos perfeitos, os colegas perfeitos, os amores perfeitos. Em vão. As pessoas que criei na minha cabeça só existiram enquanto eu pude fantasiá-las na minha cabeça. Pessoas de carne e osso têm carne e osso e muita humanidade. O ser humano é imperfeito. E uma relação entre dois, duplamente imperfeita.

Tive amigos que pareciam os amigos perfeitos. E os que mais me decepcionaram. Hoje, opto por amigos que são os melhores naquilo que é vital para uma amizade: sinceridade e respeito. Eles podem não viver comigo, não gostar das coisas que gosto, no entanto, são fiéis e sei que posso contar.

Já tive amores que gostavam das mesmas coisas que eu, tinham a mesma idade, ouviam as mesmas músicas, começavam a comer uma trufa pelo mesmo pedaço. E pra que tudo isso? Meus amores mais importante tiveram pouco a ver comigo mas me amaram muito e foram os que mais me fizeram crescer, e os que trago comigo até hoje. Reconheço que deixei de aproveitar essas pessoas porque via nelas algo que não era o que eu tinha idealizado. Lamento.


“Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo por amor”



Hoje não busco mais amores perfeitos, e, aos poucos, estou aprendendo a valorizar quem não é. Estou vendo nas imperfeições algo para lembrar, para rir, para contar. Estou me interessando por alguém de carne e osso, e vendo o brilho que gente assim pode ter. Estou descobrindo que a mesma pessoa pode ser interessante todos os dias, porque sempre haverá um gesto novo, uma história, ou o velho carinho, a velha atenção, e o velho olhar, que a essa altura já é mais do que revelador.

Estou aprendendo a sair da segurança do meu mundo por amor. E feliz.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“Mesmo a ilusão de amor me faz feliz”



Por Juliana Ramiro

Uma ilusão de amor pode vale mais que o próprio amor? Ouvindo mais uma das belas músicas interpretadas pela ótima Isabella Taviani me fiz essa pergunta. E claro, comecei a olhar para o meu umbigo e chego a conclusão de que SIM. Uma ilusão de amor pode nos fazer mais feliz e até ser maior que o próprio amor.

Estar sentimentalmente iludido ou se iludindo tem seus pontos importantes. A gente sofre com a falta? Sofre. Todavia, um belo dia cansa dessa ilusão e deixa de sofrer, como mágica. Fácil e simples assim. Outra parte boa, quando a gente tá com o coração cheio produz mais, irradia o que pensa estar sentido, não se esvazia.

Eu acredito no bilho de um ser apaixonado. Mesmo que de faz de conta, de fora pra dentro. Pra mim, o sentimento tá 90% na cabeça, 10% no coração. Ela manda e ele aperta. Ele relaxa e ela esquece.


“ Boca a boca vai mudando essa vontade
Seu exército invadindo o meu país
Até quando o corpo pede essa saudade?
Mesmo a ilusão de amor me faz feliz”



Até quando o corpo pede essa saudade? Até quando ele se sente bem com ela. Depois passa. Mas nem tudo passa. Pra mim sempre fica o perfume. Eu ainda caminho na rua e sinto e cheiro VOCÊS.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Último Anjo


Por Juliana Ramiro
Mais uma música. A minha música da semana. A Isabella Taviani não é tão famosa assim aqui no Rio Grande do Sul, pouca gente conhece, mas pra mim ela é tão boa quanto a Ana Carolina, que amo. As duas têm vozes lindas e letras ótimas, com sentimento, um cotidiano revelado. Recomendo.
E é uma música dela que embala o caos que se instalou nos meus últimos dias. A música é pura poesia, puro lamento e zero solução. Mas e daí? Quem disse que música tem que ser remédio? Pra mim pode ser só médico, identificando os meus sintomas, dando meu diagnóstico. E essa canção faz isso muito bem.


“Tá tão estranho aqui
Pareço desfocar o que você sorri
Por pura intuição
Se a água não correr
A lua despencar
O horizonte inteiro verticalizar
Inverter a rotação
Me traga a sua mão
Varinha de condão
Reze uma oração
Pai, filho e espírito são
Somos o meio entre o principio e fim
Fomos o freio entre o bom e o ruim
Me dê o chão pra pisar
Um coração para amar
Me trate bem
Sou um anjo caído do além
Me trate bem
Todo anjo tem medo também”



Meu horizonte essa semana tá, literalmente, vertical. Perdi meu chão, o apoio, fui injustiçada, sofri, chorei, surtei por falta de reconhecimento, dinheiro, afeto, tudo ao mesmo tempo. Nunca quis tanto acreditar em fadas para que uma usasse sua varinha e me levasse direto para a próxima semana – sim, eu ainda tenho esperança de dias melhores.


“Me trate bem, todo anjo tem medo também”


Nossa, não posso nem reescrever essa frase que já me dá um nó na garganta. Como é difícil ser forte e ser vista dessa forma. Eu não posso ter medo, não posso fraquejar e não posso desistir porque preciso manter a imagem que colei em mim. E se isso não for eu? E se eu misturei as figurinhas do meu álbum e colei tudo errado, como faço pra voltar? Como faço para saber? Eu tô sempre buscando respostas. Sem sucesso.
Até aqui, este talvez seja o post mais confuso do meu blog. Cheio de devaneios, de pensamentos, de inconformidades.


“Tá tão estranho aqui, pareço desfocar”


É isso.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

“...solos tu y yo besando las heridas...”





Por Juliana Ramiro
Quem ainda não assistiu ao filme Habana Blues TEM que fazer isso. O filme é ótimo, político, romântico, sexual, musical, é tudo. Ele traz como história central a vida de dois amigos cubanos, que tem como sonho ganhar a vida como músicos.
Numa Habana empobrecida, os amigos não tem muito espaço. Eis que surge uma gringa em busca de músicos para fazer sucesso fora da ilha, claro, falando mal do sistema econômico e do governo ditatorial cubano.
Qual o preço desta fama? Falar mal da ilha é nunca mais voltar a viver nela. E a família? Amigos? Todos ficam presos no passado. Entre talvez a única chance de se tornarem músicos ou permanecerem na ilha com a família, um dos músicos compõe e canta, numa cena linda e triste, a que pra mim é a melhor canção do filme.
Tirando Cuba do pano de fundo e trazendo a música para o nosso cenário, o cenário de cada um, quantas vezes nos deparamos com situações assim dentro de um relacionamento. Quantos casais foram separados por divisas alfandegárias e por divisas criadas dentro do próprio sentimento e, principalmente, dentro da cabeça, de que a sobrevivência não seria possível?
E a música vai além. “Solos tu y yo besando las heridas”. Quantas pessoas se amam mas são tão diferentes que só o amor não dá conta de mantê-las unidas? Elas precisam de mais. E brigam. Sofrem. Se afastam. Voltam. E a cada volta beijam as feridas que deixaram quando foram embora e tentam recomeçar. E mudam de forma, e mudam de jeito. E mudam tudo, e vão assim, até que o que carregam no peito mude e deixe de ser o grande combustível deste ciclo.
O amor é o que as mantém, o que nos mantém.



terça-feira, 7 de setembro de 2010

E faz do cyber espaço um alívio...




Por Juliana Ramiro

Quantas e tantas Marias levam uma meia vida? E quantas viveram em plena desgraça até a chegada e popularização das redes sociais? Essas Marias fazem da internet um novo palco, onde podem ser Camilas, Luizas, e porque não Julianas. Aqui elas são livres. Sexualmente livres. Futilmente livres. Adulteramente livres.
É possível viver assim? Ser uma mulher aliviada num espaço dito, por alguns, irreal? Mas a Maria se insinua, provoca, deseja, atira, mira, atira de novo, goza, e faz tudo isso enquanto prepara o almoço.
E volta para um novo turno. E insinua, provoca, deseja, atira, mira, atira de novo, goza, coloca as crianças na cama. E dorme.
E em dias que o desejo de ter mais que metade de si aperta o peito. Offline.

sábado, 4 de setembro de 2010

Não vá ainda



Por Juliana Ramiro

“Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda...
Me diga como você pode
Viver indo embora
Sem se despedaçar
Por favor me diga agora
Ou será!
Que você nem quer perceber?
Talvez você
Seja feliz sem saber...”



Pedi e ele tocou. Essa música mexe comigo. Fato. Não é que a música me lembre alguém, é mais que isso. A letra, lindamente interpretada pela Zélia Duncan, ou por quem quer que seja, mexe com meus sentimentos. Até alguns que nunca tive, mas que sei senti-los.

Toda vez que ouço o trecho que selecionei para começar este post, nasce em mim um desespero, um tom de suplica. Ok, pode parecer louco da minha parte, mas gosto de sentir essas coisas, ainda mais através de uma canção, que acaba e leva com ela todo o significado, devolvendo meu sossego.

“Me dica como você pode viver indo embora?”. Como alguém pode viver indo embora, deixando para trás alguém que implora pela sua presença, nem que seja só até o adormecer? Como? Consigo compor essa cena. Um dos personagem, claro, em pranto, com as duas mãos amassando o próprio peito, dispara a frase enquanto o outro corre, fugindo de pensar sobre o que escuta.

Maaaaassss....de toda a letra, em todas as interpretações, a parta que sempre fica comigo, nos meus pensamentos é: “Talvez você seja feliz sem saber”. Será?


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

“Quero o que não se pode explicar aos normais”


Por Juliana Ramiro


“Sobre o amor e o desamor, sobre a paixão
Sobre ficar, sobre desejar, como saber te amar?
Sobre querer, sobre entender, sem esquecer
Sobre a verdade e a ilusão
Quem afinal é você?
Quem de nós vai mostrar realmente o que quer?
Um coração nesse furacão, ilhado onde estiver.
O meu querer é complicado demais,
Quero o que não se pode explicar aos normais.” (Catedral)


A música que é composta pelo trecho acima é do Catedral, uma banda que descobri há alguns anos e, num primeiro momento, achei que fosse a Legião Urbana. O cantor do Catedral tem a voz muito parecida com a do Renato Russo. Bom, mas não é pra falar de semelhança vocal que volto a escrever no meu blog, após alguns meses de abandono. Venho divagar sobre o significado desta canção.
Começo pelo final. A frase “Quero o que não se pode explicar aos normais” é um resumo de mim. Muitas e muitas vezes já fui julgada por uma certa postura ou decisão e tentei uma defesa, em vão. Em todas essas vezes, penso nesta frase. O que pra mim parece certo, e óbvio, para alguns é algo inconsebível e inexplicável.
Além desta frase, o restante do trecho também tem minha admiração. O despejo de tantos temas – “sobre o amor, desamor, paixão, ficar, desejar, querer, esquecer” – sem respostas, trazem-me uma certa tranquilidade.
Algumas pessoas parecem tão certas de quem amam, e quem desejam, e quando é amor, quando é paixão, que chego a ficar constrangida por não ter nada disso tão claro. Acho tais assuntos complexos e tão incostantes quanto uma criança num quarto cheio de brinquedos. Ora um carrinho é o dono da vez, ora um boneco, ora um videogame.
Já estou com 22 anos e sigo como essa criança, e a vida é meu quarto de brinquedos. Tento ficar tranquila com minha condição, no entanto, as vezes, encontro pessoas no caminho que me cobram um amadurecimento e uma postura decisória e objetiva que me falta. Falta-me a postura e o como chegar nela. Alguém sabe onde encontro este tutorial???